RITMOS ASTRÔNOMICOS
A integração entre o homem e a natureza através da produção agrícola tem como objetivo a busca por sistemas mais sustentáveis ao longo do tempo. Assim, a prática de agricultores ecologistas e, mais recentemente, estudos por parte dos extensionistas e pesquisadores têm contribuído para esse enfoque. Os diferentes sistemas de produção de base ecológica (orgânico, natural, ecológico, biodinâmico etc.), cada um com suas especificidades, vêm contribuindo para a construção de um novo modelo de agricultura baseado nos princípios da Agroecologia, aqui entendida como um enfoque científico destinado a apoiar a transição dos atuais modelos de desenvolvimento rural e de agricultura convencionais para estilos de desenvolvimento rural e de agriculturas sustentáveis, adotando o agroecossistema como unidade de análise, com o objetivo de proporcionar as bases científicas para o processo de transição (CAPORAL e COSTABEBER, 2004).
Maria Thun desenvolveu um sistema de cultivo que leva em consideração a posição da Lua em relação às constelações zodiacais1 . Calendários com recomendações baseadas em seu sistema estão disponíveis na Europa, América, Austrália, Nova Zelândia, Japão, Coréia, Índia e Brasil. Este sistema alcançou aceitação por muitos praticantes porque se acredita que otimize a produção, e porque é uma ferramenta de planejamento útil. Nos Estados Unidos, o calendário de cultivo Stella Natura dá instruções sobre o plantio de acordo com o sistema Thun. Este calendário é publicado e vendido pela Associação Biodinâmica local (San Francisco, Califórnia).
O início do movimento antroposófico contou com a colaboração de dois eminentes botânicos.Trata-se de Gerbert Grohmann e Dr. Alfred Usteri, Grohmann desenvolveu de maneira abrangente a Doutrina da Metamorfose da Planta de Goethe e ficou bastante conhecido em nosso meio. Seu trabalho tornou-se fundamento do ensino da botânica nas escolas Waldorf e está sendo desenvolvido e lavado adiante.
Usteri ocupou-se com o espelhamento existente entre as plantas e os planetas e desenvolveu sob este ponto de vista uma classificação botânica do mundo vegetal. Lamentavelmente, apesar dos seus inúmeros escritos publicados com belíssimos desenhos muito peculiares, em livros, editados pela editora Rudolf Gering de Basileia e artigos nos diferentes jornais orientados antroposoficamente está prestes a cair em esquecimento. Isto se explica em parte, por que para apreciar seu trabalho, pressupõe-se não só um bom conhecimento do reino das plantas, mas também um amor verdadeiro para as diferentes espécies vegetais. Como estes requisitos correspondem aos nossos “biodinâmicos” aqui no Brasil, parece ser válida uma tentativa de transmitir para o nosso meio os paradigmas deste cientista.
Goethe, no seu ensaio aforístico “Sobre a Tendência de Espirais dos Vegetais“ chama à atenção para uma regularidade que atravessa todo o reino vegetal, mas que até então, fora mencionado só incidentalmente pelos botânicos da sua época. Goethe descreve o sistema vertical e o sistema de espirais: ”como duas tendências principais ou, se quiser, como os dois sistemas vitais, pelos quais a vida vegetal pelo crescimento se arremata”. A configuração desta Idéia foi baseada em um impulso que partiu do botânico de Munique, Karl von Martius. Desde 1823 Goethe estava em correspondência com Martius, tratando principalmente de questões botânicas .
Em 1827 Martius ministrou uma palestra sobre a “Arquitetura das Flores” que chamou muita atenção dos pesquisadores. Martius mostrou na ocasião, como na: “Construção” da disposição das pétalas, anteras e carpelos muitas flores seguem uma tendência nítida de linhas espiraladas ou helicoidais. Os exemplos mais conhecidos encontram-se nas flores das ninféas e magnólias. Martius viu nisso uma indicação geral de que o posicionamento dos órgãos florais deve coincidir com as mesmas leis da ordenação de espirais das folhas, dos caules e ramos. E assim ele…
1. INTRODUÇÃO
A história das grandes civilizações do passado mostra a importância dos ritmos astronômicos nas atividades agrícolas. Os tupis-guaranis conhecem e utilizam as fases da lua na caça, no plantio e no corte de madeira (AFONSO, 2006). Este conhecimento está desaparecendo, mas ainda se constatam resquícios da sabedoria camponesa no uso das fases da Lua na agricultura, silvicultura e manejo animal (RESTREP O-RIVERA, 2005).
A agricultura biodinâmica, segundo STEINER (2001), valoriza esse conhecimento popular e o amplia, incorporando os outros ritmos da lua e o movimento dos planetas relacionados com as atividades agrícolas em geral. No movimento biodinâmico internacional, o calendário astronômico-agrícola mais conhecido, atualmente, é o de THUN (2006), o qual é traduzido para várias línguas. Ela tem pesquisado essas interações de maneira sistemática e prática há quase 50 anos.